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HISTÓRIA DO DESIGN 6: O NASCIMENTO DA ERA DO DESIGN INDUSTRIAL

O Design como profissão não surge isoladamente como algo definido e concreto. Uma série de fatores antecedem para que nasça efetivamente um modelo inteligível e deixe de ser algo intrinsecamente abstrato para algo concreto. Vamos explorar um pouco da perspectiva do objeto de como sua concepção transforma toda a realidade ao seu redor. Quais foram os questionamentos que levaram o status de uma singular ideia ser adequadamente pensada e projetada para dar lugar um profissional especializado em transcender ideias e materializar produtos em realidades práticas reais?




O PIONEIRISMO INGLÊS

Desde que as primeiras indústrias surgiram na Inglaterra, protagonizadas pelos aristocratas britânicos com aval da Coroa Inglesa o único objetivo era destronar a hegemonia do Império Espanhol. Era preciso fomentar novos negócios e criar produtos de forma rápida e barata para não dar tempo a Espanha em organizar-se e rivalizar com a Inglaterra. Além disso, era preciso criar uma nova classe de trabalhadores remunerados para estancar a  riqueza pela Espanha  no seu cerne que utilizava de mão de obra escrava, gerando dividendos muito rápidos sem custo efetivo. Porém, a própria Inglaterra era uma nação escravagista tão impiedosa que era inconcebível iniciar uma revolução sem acabar com um sistema que eles mesmos pretendiam combater e assim o Estado foi traído de certa forma por seus colaboradores aristocratas forçando o Estado a ter de abrir mão da mão de obra escrava de suas próprias colônias. 

Os aristocratas já estavam impacientes para lucrarem, uma vez que fomentar fábricas tinham custos elevadíssimos e demandariam  mais mão de obra, e torná-la  fartamente disponível faria com que o sistema de trabalho torna-se rotativo, trocando trabalhadores frequentemente motivados com pagamentos, ao mesmo tempo que gerariam uma classe de consumidores de seus próprios produtos aumentando a oferta de produtos. Os salários eram considerados baixíssimos, quase insignificantes, mas como não havia ainda indústrias era uma quantia suficiente para sobreviver, já que o maior parte da população ainda era camponês tendo melhores recompensas do que continuar no campo. 

O fomento das industrias tinha o aval do Estado, que por enquanto não seriam importunadas pelo mesmo, isso fez com que as indústrias se espalhassem por toda Inglaterra rapidamente. Elas eram erguidas com ajuda de engenheiros e arquitetos e outras mentes brilhantes para diminuir o esforço humano e produzir cada vez mais rápido produtos. Tudo isso graças a invenções mecânicas engenhosas e eficientes, utilizando a força da água como gerador motriz de suas máquinas. Os empreendedores da Inglaterra queria mais. Sabia que tinham grandes reservas de carvão e que poderia aproveitar de alguma forma. As primeiras indústrias eram construídas as margens dos rios movidas por força d'água como força motriz para as máquinas. O desenvolvimento das máquinas precisou desenvolver tecnologias para aperfeiçoá-las. Não o bastante, logo começaram a usar o carvão como combustível para as indústrias, ao mesmo tempo que elas geravam rejeitos e eram livremente escoados nos próprios rios que utilizavam para abastecimento de água, geração de energia, esgoto e agora com a indústria pesada a água ganhava rejeitos químicos fortes que logo trariam consequências irreversíveis. O carvão permitiu a geração de indústrias do aço e siderurgias, abrindo caminho para que as indústrias não precisassem necessariamente ficar ancorada as margens dos rios, pois com locomotivas a vapor elas poderiam percorrer longas distâncias trazendo o desenvolvimento para lugares cada vez mais longes. Isso permitiu a urbanização das cidades.

Cada vez mais as indústrias se diversificavam, os produtos porém não. Eram limitados ao processo industrial vigente, para fazer rápido os produtos eles foram concebidos para atender as necessidades  da industriai, removendo completamente o elemento artístico dos produtos para focar somente em sua função primordial. Como as populações eram basicamente camponeses muitos pobres, era mais fácil adquirir um produto simples mas acessível, do que nunca ter um produto caro e luxuoso. Não foi difícil fazer com que os produtos industrializados caíssem no gosto do da população. Eram produtos feitos por trabalhadores industriais vendidos para todas as classes. Esse movimento gerou o design moderno nos produtos onde a necessidade fez com que a arte se separasse do objeto.

Isto  gerou mais tarde gerou a fúria de artistas talentosos como Willian Morris, Arthur Heygate Mackmurdo, William Richard Lethaby, Charles Robert Ashbee, e Warter Crane. A partir de 1880 concentram-se associações e guildas como a Century Guild of Artists, The Arts Worker's Guild (existe até os dias de hoje), Birminghan Guild of Handicraft e Arts and Craft Exhibition Society iniciando o movimento que ficou conhecido como Arts and Crafts - essa  valorização das artes o os ofícios manuais como premissa de empregar novamente a arte aos produtos que haviam perdido seu valor estético. O movimento não vingou nos produtos vigentes,pois queriam retomar um estilo que já passou sua época, mas impactou subsequentemente a indústria, pois muitas empresas inglesas começaram a melhorar seus processos e manufatura para imprimir um pouco do estilo artísticos nos produtos, trazendo um pouco da arte aplicada de volta aos objetos embora nunca mais tivesse a riqueza de detalhes e o talento artístico de um artesão, já que as máquinas ainda engatinhavam e já eram complexas demais para época conseguir imprimir qualquer perfeição artesanal.

A Revolução Industrial impactou profundamente a Europa e o mundo, já que o desenvolvimento da indústria permitiu criar um novo tipo de trabalho, uma nova classe social, novas formas  de produtos , novos equipamentos e ferramentas, modelo de processo e gestão além de acabar com a escravidão pautada no trabalho, dando a falsa liberdade que o dinheiro proporciona ao indivíduo agora como consumidor e também a urbanização e crescimento das cidades.


REQUINTE FRANCÊS

Já na França a industria permaneceu inalterável, sendo feita nos moldes artesanais não seguindo a onda da mecanização inglesa. Afinal a nobreza tinham que mostrar status como forma de diferenciação e poder. A industrialização na França aconteceu tardiamente começando de forma tímida com produção de baixa escala e limitada. O seu principal valor era o elemento estético como principal atributo de diferenciação dos produtos franceses. Por conta disso os objetos confeccionados na França ainda eram demorados e caros em relação aos ingleses. Foi somente com a Revolução Francesa quando o Rei Louis XVI foi literalmente guilhotinado é que a França começa de forma mais acelerada a industrializar-se, porém, nunca perdeu as características de manter os elementos e ornamentos da realeza, como um sinal claro que a monarquia mesmo deposta era o desejo do povo viver aquela vida fantasiosa, como um sonho ideal a ser alcançado.

Quando falamos em produtos artesanais na Europa, não estamos falando de produtos de baixo valor, ou feitos precariamente, como são habitualmente feitos no Brasil. Lá o valor artístico e estético estão além da excelência e são bastante valorizados; a mão de obra é altamente especializada, produzindo com extraordinário talento muitos artefatos.

A França embora tenha perdido o timming entrando na II Revolução Industrial, ela conseguiu conservar elementos importantes e característicos que determinaram os produtos franceses como exemplares na era industrial, tornando seus produtos como artigos de grife que encantam e enobrecem o valor dos produtos manufaturados.



O PENSAMENTO INOVADOR ALEMÃO

Na Alemanha, no antigo Reino da Prússia a industrialização também começou tardia não seguindo a I Revolução Industrial, pois o Império não era subdesenvolvido já que o Estado  era rico e os seus habitantes mais instruídos, tendo a economia diversificada com portos, cidades e bancos fortes atores na economia européia. Outro fato é a contribuição para as ciências, literatura, filosofia, música como fatores culturais de grande magnitude. Na Alemanha é considerada como uma industrialização tardia por conta do seu sistema político descentralizado, até a unificação da Alemanha.

Friedrich Hegel foi um dos pensadores que impulsionou o  marco de um modelo para a cultura alemã desenvolvendo um conceito filosófico de "Idealismo Absoluto" influenciando a cultura alemã e promovendo a excelência por princípio político e o espírito social onde culminou outra obra  "A Fenomenologia do Espírito" criando a filosofia da modernidade por excelência:

" Tudo que é inteligível para o ser que idêntico no seu fundo com o Espírito ou a Ideia infinita, se manifesta no universo concreto graças ao movimento dialético, tese, antítese e síntese".

No viés econômico o Banco da Prússia em 1846 foi o elemento fundamental para alavancar a revolução industrial na base alemã e fator de influencia da Unificação do Alemanha em 1871. A população com auto grau de instrução formou uma excepcional classe trabalhadora diferente da mão de obra camponesa inglesa, ou mão de obra artesanal francesa. Com altos níveis de educação propiciou rapidamente um alto nível de inovação e tecnologias mais eficientes que os ingleses.

Assim a industria Alemã tornou-se referência nos setores da indústria química, elétrica e naval. Como a população com maior grau de instrução começa a questionar seus direitos e o movimento dos direitos sociais aos trabalhadores formando os primeiros movimentos sindicais. A Alemanha também foi pioneira nos direitos sociais pelo fato da indústria ser financiada e protegida pelo Estado formando grandes conglomerados, monopólios ou oligopólios controlados pelo Estado, fizeram que com que induzisse o Governo aceitar tais políticas, pois o Estado Alemão tinha interesses em manter controle em indústrias vitais para a soberania nacional como a indústria militar que era parte da indústria alemã.

A industria alemã era referência em pesquisas médica e bioquímicas, pioneira na industria química de tintas e corantes e pesquisas de física teórica e quântica,e os principais produtos eram sabão, tintas, detergentes, tintas de impressão, vernizes, corantes laboratoriais, produtos farmacêuticos e de higiene, material fotográfico, explosivos e fertilizantes.

Esse protecionismo estatal fez com que a Alemanha entrasse no II Revolução Industrial e mesmo com duas derrotas em Grandes Guerras Mundiais, o Estado Alemão e sua industria enfraquecida foram cruciais para o reerguimento do país mesmo em períodos de dificuldade tornando a Alemanha de volta a uma potência sendo a grande potência econômica e industrial da Europa.



O GRANDE MILAGRE ECONÔMICO ITALIANO

Na Itália, assim como na Alemanha passa por um processo de finalização de unificação dos reinos em 1870. A Itália tinha muitos pontos em  comum com a Alemanha, só que era mais pobre em matéria prima para fomentar uma indústria de ponta.

Outro ponto em comum, as duas uniram-se no período da Grande Guerra Mundial, que foi um período marcado por instabilidade política e econômica. Após a queda de Mussolini ocorre o que é conhecido como o "Milagre Italiano".

Depois que acaba o regime, no norte da Itália um pequeno grupo de empresário fazem uma forte concentração industrial no Vale do Pó (Rio Pó) e essa região já era desenvolvida há séculos principalmente pelo comércio com o Oriente Médio e várias regiões da Europa. As cidades de Veneza e Genova são importantes cidades comerciais fazendo  com que o capital, população e aglomeramento de pessoas e diversificação de serviço iniciasse a industrialização no século XIX.

Já o sul da Itália só foi industrializado após a Segunda Guerra Mundial e com políticas de intervenção do Estado para  promover a  descentralização da indústria no norte de país dando incentivos fiscais fazendo com que empresas do norte abrissem filiais no sul.

A indústria que ainda era movida a carvão passa a usar outras fontes de energia como eletricidade e petróleo concentrando as industrias de refinarias na Europa. A Itália só foi beneficiada com o Plano Marshall para promover a industrialização do país no pós-guerra produzindo produtos pequenos de consumo dúráveis como utensílio de cozinha, cafeteiras, batedeiras, objetos decorativos e mobiliário, sendo ícones de referencia do design mundial.



A COMPETIÇÃO AMERICANA

A indústria na América acontece após a declaração da independência em 1776. Nos Estados Unidos a indústria iniciasse na região conhecida como Grandes Lagos para a exploração dos recursos minerais. Porém com a Guerra da Secessão a indústria ficou voltada a produzir armas, tanto pelo lado confederado quanto sulistas, mas foi somente no fim da Guerra Civil e que houve efetivamente a descentralização da indústria americana a fim de baixar custos de produção garantindo maior lucro, já que cada estado tem politicas e impostos diferenciados.

No século XIX com fortes  indústrias como de minério, siderurgia, e automotiva que ainda engatinhava expandiu  o conceito de  linha de montagem que não era novidade, pois já era aplicado à séculos antes na Europa, a grande inovação foi permitir que o processo corresse através dos trabalhadores que não precisavam ter uma mão de obra especializada já que com a divisão do trabalho era mais rápido e simples aprender apenas executando repetições mecânicas.

Assim surgiu nos Estados Unidos uma nova classe trabalhadora, com mão de obra simples, pouco qualificada, e a indústria aproveitou e criou um novo mercado consumidor e um novo estilo de vida no modo americano. O hambúrguer foi idealizado para ser uma refeição rápida e simples, para nutrir seus trabalhadores ao mesmo tempo que criava uma cultura, e a inspiração para a refeição veio da Alemanha, da cidade de Hamburgo.

As empresas de metal  investiram pesado na construção, principalmente com a tecnologia do concreto armado que permitiu verticalizar as cidades, e criar a arquitetura moderna americana. Outra indústria que investiu pesado foi a indústria bélica no emprego de metal para manufaturar armamentos, navios e mais tarde o emprego do carro como cavalaria mecanizada. 

Porém, a exploração e trabalho forçado dos trabalhadores americanos fez com que acontecessem inúmeras greves e revoltas patronais. Isso fomentou a competição interna entre os estados a buscar suas vocações e empregar melhor a mão de obra especializando em atividades que melhor adaptariam a sua realidade e seus recursos disponíveis.

O crescimento da indústria americana acelerou justamente pela competição interna favorecendo a inovações e aprimoramento de tecnologias, técnicas organizacionais e gestão, a fim de maximizar lucros e gerar qualidade superior aos concorrentes.

Com a chegada da Guerra Mundial, os Estados Unidos se viu obrigado a inserir as mulheres na industria como forma de suprir a demanda, já que os homens estavam lutando do outro lado do Atlântico e do Pacífico. A indústria abriu um novo paradigma de trabalho, onde a mulher foi inserida ganhando destaque na sociedade e na economia de mercado.

No pós Guerra Mundial a produção já era moderna e o incentivado pelo Estado a aumentar a população houve uma explosão do consumo que atraiu maior prosperidade ao país. Assim, o período conhecido como a geração Baby Bommers fez com que surgissem novos produtos e utilidades que facilitariam a vida doméstica americana, como grandes inovações como aspirador de pó, batedeiras elétricas, forno micro-ondas, geladeiras e freezer, maquina de lavar entre tantos outros fomentando a sua cultura e difundindo mundo afora.



"O mundo não seria o mesmo sem o design moderno, pois o objeto emana significados que alimentam necessidades e motivam pessoas a produzir novas soluções para saciar nossos desejos e demandar novas realidades construindo novos mundos continuamente."

- Roger Mafra

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